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quinta-feira, 10 de julho de 2014

"É melhor morrer do que trair as próprias convicções"

Sangue - Morrer ou trair convicções?



"É melhor morrer do que trair as próprias convicções"

Com essa frase como cabeçalho começa um interessante relato sobre pessoas que, em face da morte, preferiram renunciar às suas vidas do que trair princípios que advogavam. Esse relato, contido no livro de 2 Macabeus, capítulo 6, versículos 18-31, conta a história real de pessoas que passaram por esta situação confrontadora, e souberam corajosamente dar um excelente testemunho. Embora o referido livro não seja considerado canônico (inspirado por Deus), ele é comprovadamente correto em sentido histórico, pois relata o período pós-exílico, de dominação da Palestina pelo governante greco-selêucida Antíoco Epifânio (cerca de 180 AEC a 160 AEC). Para maiores informações, veja-se Estudo Perspicaz, vol.1, pg. 151-156, sob o verbete "Apócrifos"; também o artigo "Quem eram os Macabeus?", em A Sentinela, 15/11/1998, pg. 21-24.
      

      Esse relato, extraído da versão bíblica católica Edição Pastoral (21ª edição, 1997) começa da seguinte maneira:
       "Eleazar era um dos principais doutores da Lei, homem de idade avançada, mas com rosto de traços ainda belos. Queriam obriga-lo a comer carne de porco, enfiando-a boca adentro. Ele, porém, que preferia morte honrada a viver envergonhado, dirigiu-se espontaneamente para a tortura do tímpano, tendo antes cuspido fora o que lhe estava na boca. Assim é que devem fazer os que corajosamente querem resistir ao que não é permitido comer, nem mesmo por amor à própria vida. Os que dirigiam esse sacrifício proibido, velhos amigos de Eleazar, o chamaram de lado e lhe propuseram que pegasse carne permitida, por ele mesmo preparada, fingindo que comia a carne do sacrifício ordenado pelo rei. Se ele assim fizesse, estaria livre da morte e, pela antiga amizade que havia entre eles, o tratariam com benevolência. Ele, porém, tomou uma nobre decisão, coerente com a sua idade e com o respeito da velhice, coerente com a dignidade de seus cabelos brancos e com a vida correta que levava desde a infância; acima de tudo, coerente com as santas leis dadas pelo próprio Deus. Ele respondeu prontamente: "Podem mandar-me para a mansão dos mortos. Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho de noventa anos chamado Eleazar passou para os costumes estrangeiros. Com o seu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha e desprezo para a minha velhice. Ainda que no presente eu me livrasse do castigo humano, nem vivo nem morto conseguiria escapar das mãos do Todo-Poderoso. É por isso, que se eu passar corajosamente para a outra vida ("se eu morrer", versão Ave-Maria), me mostrarei digno da minha idade. Para os mais moços posso deixar um exemplo honrado, mostrando como se deve morrer corajosa e dignamente pelas veneráveis e santas leis". Dito isso, foi imediatamente para o suplício.
       Os seus torturadores, que pouco antes queriam ser amáveis com ele, então se tornaram cruéis por causa do que ele dissera, ao considerar tudo aquilo uma loucura. Já quase morto, em meio às torturas, Eleazar ainda falou entre gemidos: "O Senhor, que possui a santa sabedoria, sabe que eu, podendo escapar da morte, suporto em meu corpo as dores cruéis da tortura, mas em minha alma estou alegre, por que sofro por causa do temor a ele". E assim passou desta para a outra ("terminou sua vida", versão Ave-Maria). Sua morte deixou, não só para os jovens, mas também para todo o restante do povo, exemplo memorável de heroísmo e virtude."

       Interessante e digno de nota é, que no comentário deste relato, ao rodapé, nos é dito:       "18-31: Eleazar é o modelo da resistência. De que adianta prolongar a vida, se para isso é necessário trair as próprias convicções? A geração presente educa a geração futura. O que podem os jovens de amanhã esperar, se a geração de hoje se acovarda e se acomoda diante dos desafios para construir uma sociedade mais justa e fraterna? Em tempos de perseguição, o valor humano se mede, não pela duração da vida, mas pela integridade do testemunho". (grifo acrescentado)

       Seria fácil se ter o raciocínio naquela época: "O que custa comer só um pouquinho da carne de porco?", afinal, é para salvar a vida!" Mas o fato é que Eleazar estava preocupado em como isso poderia refletir sobre a Lei dada por Deus e seu relacionamento com Ele. (Deuteronômio 14:8)
       O paralelo é válido também para o caso do sangue, que ao contrário da lei mosaica sobre a abstinência de carne de porco, não foi abolida para os cristãos. (Atos 15:28,29). Se algo tão aparentemente irrelevante como comer carne de porco foi considerada tão séria por alguns israelitas, lei essa que depois foi abolida, que dirá então quando se refere ao sangue, cuja lei foi ratificada e continuada pelos cristãos? E quando essa lei envolve outros, especialmente os filhos? 

       
Nesse mesmo livro, de 2 Macabeus, cap. 7, vers. 1-42, da mesma versão bíblica, é citado o caso de uma mãe e seus sete filhos, envolvidos na mesmíssima questão de Eleazar. Vejamos o relato, sob o comentário "O testemunho dos mártires":

      
 "Aconteceu também que sete irmãos foram presos junto com sua mãe. Espancando-os com relhos e chicotes, o rei pretendia obrigá-los a comer carne de porco, que era proibida. Um deles, falando em nome dos outros, disse: "O que você quer perguntar ou saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que desobedecer às leis de nossos antepassados". Enfurecido, o rei mandou esquentar assadeiras e caldeirões. Logo que ficaram quentes, mandou cortar a língua, arrancar o couro cabeludo e decepar as extremidades daquele que tinha falado pelos outros, e tudo diante dos irmãos e da mãe. Já mutilado de todos os membros e enquanto ainda vivia, o rei mandou que o pusessem no fogo para assar. Da assadeira subia grande volume de fumaça. E os seus irmãos com a mãe se animavam entre si para enfrentarem corajosamente a morte, dizendo: "O Senhor Deus nos observa e certamente terá compaixão de nós, conforme afirmou claramente Moisés no seu cântico: 'Ele terá compaixão de seus servos'". 


       Depois que o primeiro passou desta para a outra ("morreu", versão Ave-Maria), levaram o segundo para a tortura. Após lhe arrancarem o couro cabeludo, perguntaram: "Você vai comer, antes que seu corpo seja torturado membro por membro?" Ele, porém, respondeu na sua língua materna: "Não". Por isso, foi submetido às mesmas torturas do primeiro. Antes de dar o último suspiro, ainda falou: "Você, bandido, nos tira desta vida presente, mas o rei do mundo nos fará ressuscitar para uma ressurreição eterna de vida, a nós que agora morremos pelas leis dele".
       Depois desse, também o terceiro foi levado para a tortura. Intimado, colocou imediatamente a língua para fora e apresentou corajosamente as mãos, dizendo com dignidade: "De Deus eu recebi esses membros, e agora, por causa das leis dele, eu os desprezo, pois espero que ele os devolva para mim". O rei e aqueles que o rodeavam ficaram admirados da coragem com que o rapaz enfrentava os sofrimentos, como se nada fossem. 

       Passado também esse à outra vida ("Morrido esse também", versão Ave-Maria), começaram a torturar da mesma forma o quarto irmão. Estando para morrer, ele falou: "Vale a pena morrer pela mão dos homens, quando se espera que o próprio Deus nos ressuscite. Para você, porém, não haverá ressurreição para a vida".
       Imediatamente apresentaram o quinto e passaram a torturá-lo. Olhando bem para o rei, ele afirmou: "Mesmo sendo simples mortal, você faz o que quer, porque tem poder sobre os homens. Mas não pense que o nosso povo foi abandonado por Deus. Espere um pouco, e verá como o grande poder dele vai torturar você e sua descendência".
       Depois desse, trouxeram também o sexto. Quando estava morrendo, ele ainda falou: "Não se iluda! Nós estamos sofrendo tudo isso por nossa culpa, porque pecamos contra o nosso Deus. Por isso nos acontecem essas coisas espantosas. Quanto a você, que se atreveu a lutar contra Deus, não pense que ficará sem castigo".

       Extraordinariamente admirável, porém, e digna da mais respeitável lembrança, foi a mãe. Ela, vendo morrer seus sete filhos num só dia, suportou tudo corajosamente, esperando no Senhor. Ela encorajava cada um dos filhos, na língua dos seus antepassados. Com atitude nobre, e animando sua ternura feminina com força viril, assim falava com os filhos: "Não sei como vocês apareceram no meu ventre. Não fui eu que dei a vocês o espírito e a vida, nem fui eu que dei forma aos membros de cada um de vocês. Foi o Criador do mundo, que modela a humanidade e determina a origem de tudo. Ele, na sua misericórdia, lhes devolverá o espírito e a vida, se vocês agora se sacrificarem pelas leis dele". 

       Antíoco pensou que a mulher o enganava e desconfiou que ela o estava insultando. Restava, porém, o filho mais novo. E o rei tentava convencê-lo, e até lhe garantiu, sob juramento, que, se renegasse as tradições dos antepassados, ele o tornaria rico e feliz, o teria como amigo e lhe daria cargos importantes. Entretanto, o menino não lhe deu a menor atenção. Por isso, o rei chamou a mãe e pedia que ela aconselhasse o menino para o próprio bem dele. Depois de muita insistência do rei, ela aceitou falar com o filho. Abaixou-se e, enganando esse rei cruel, usou a língua dos antepassados e falou assim: "Meu filho, tenha dó de mim. Eu carreguei você no meu ventre durante nove meses. Eu amamentei você por três anos. Eduquei, criei e tratei você até esta idade! Meu filho, eu lhe imploro: olhe o céu e a terra, e observe tudo o que neles existe. Deus criou tudo isso do nada, e a humanidade teve a mesma origem. Não fique com medo desse carrasco. Ao contrário, seja digno de seus irmãos e enfrente a morte. Desse modo, eu recuperarei você junto com seus irmãos, no tempo da misericórdia". 

       Apenas ela acabou de falar, o rapazinho disse: "O que vocês estão esperando? Eu não obedeço às ordens do rei. Obedeço às determinações da Lei que foi dada a nossos antepassados através de Moisés. Quanto a você, que está procurando fazer tudo o que há de mau aos hebreus, você não vai conseguir escapar das mãos de Deus. Nós estamos sofrendo por causa de nossos pecados. Por um pouco de tempo, o Senhor vivo está irado conosco e nos castiga e nos corrige, mas ele voltará a se reconciliar com os seus servos. Quanto a você, ímpio e pior criminoso do mundo, não fique se exaltando à toa ou gritando esperanças que não tem fundamento, enquanto ergue as mãos contra os servos do Céu. Você ainda não escapou do julgamento do Deus Todo-Poderoso, que tudo vê. Depois de suportar um sofrimento passageiro, os meus irmãos já estão participando da vida eterna, na aliança com Deus. Em troca, no julgamento de Deus, você receberá o castigo justo por sua soberba. 

      Quanto a mim, da mesma forma que meus irmãos, entrego o meu corpo e a minha alma em favor das leis de meus antepassados, suplicando que Deus se compadeça logo do meu povo. Enquanto isso, você, à custa de castigos e flagelos, terá de reconhecer que ele é o único Deus. Suplico que a ira do Todo-Poderoso, que se abateu com toda a justiça contra o seu povo, se detenha em mim e em meus irmãos".
       O rei, sentindo-se envenenado pelo sarcasmo, ficou furioso, e tratou o menino com crueldade ainda mais feroz do que fizera com os outros. E o menino morreu sem mancha, confiando totalmente no Senhor.
       A mãe morreu por último, depois dos filhos. 
       Por hora, basta o que contei sobre as refeições sacrificiais e as incríveis crueldades."

      Também nos é dito em comentário a esses versículos, no rodapé:

      
 "7: 1-42: É uma das páginas mais comoventes de toda a Bíblia, mostrando que o tempo de perseguição se torna ocasião de educar para o testemunho capaz de enfrentar até o sacrifício da própria vida. Aqui aparece, pela primeira vez e com clareza, a crença na ressurreição: esta se baseia na compaixão de Deus para com seus fiéis (v. 6), no poder de Deus que do nada e da morte é capaz de criar a vida (vv. 28,29), e na aliança de Deus com o seu povo, que jamais será rompida. (v. 36). A fé na ressurreição, porém, aparece em contexto difícil, onde a pessoa é chamada a dar a sua própria vida em favor do povo (v. 38). O texto também deixa claro que os mártires são testemunhas radicais da verdade. A coragem de entregar a própria vida liberta a língua para mostrar o verdadeiro porte do perseguidor: este, na verdade, está lutando contra o próprio Deus e é, portanto, o maior criminoso do mundo (v. 19). A fé na ressurreição não é neutra: Deus ressuscita os justos para vida; quanto aos injustos, não ressuscitarão para a vida (v. 14): seu destino é a morte definitiva." (grifo acrescentado)


       Imaginem em que situações conflitantes foram postos os filhos e a mãe: Salvar a vida, violando uma lei de Deus, ou perdê-la por se ater aos princípios? Se fosse você, com seus filhos, o que faria? E se fosse testemunha ocular, o que pensaria do episódio? Acharia fanatismo da parte dos filhos e da mãe? Seria extremismo da parte deles não comer carne de porco e perder a vida a duras penas?
       Com certeza, com respeito a lei de Deus sobre o sangue é de maior valor, pois ainda perdura até os dias de hoje, conforme se nota em Revelação 2:24,25 (NM), que diz:

       
"No entanto, digo aos demais de vós, os que estais em Tiatira, a todos os que não têm este ensino, aos mesmos que não chegaram a conhecer as "coisas profundas de Satanás", conforme eles dizem: NÃO PONHO SOBRE VÓS NENHUM OUTRO FARDO. Assim mesmo, APEGAI-VOS AO QUE TENDES ATÉ QUE EU VENHA." (O grifo é nosso)

       Obviamente amamos a vida e a nossos filhos, e fazemos o possível para que sejam assegurados a vida e a saúde, porém, não em detrimento da obediência ao mandamento bíblico. No entanto, realisticamente olhado no paralelo traçado com o relato, recorrer a transfusões de sangue mesmo debaixo das circunstâncias mais extremas não é verdadeiramente salvar vidas. Pode resultar no prolongamento imediato e muito temporário da vida, mas isso às custas da vida eterna para um cristão dedicado. E ainda pode trazer morte repentina, e essa para sempre. (Mateus 10:39) Quão melhor é obedecer à lei de Jeová Deus, a Fonte da vida, e abster-se de sangue do que incorrer em sua desaprovação como transgressor, assim como pensavam Eleazar e aquela família, mãe e filhos. Em todas as ocasiões, e certamente quando as forças vitais de alguém estão minguando, o proceder sábio é depositar confiança Naquele em cujas mãos descansa o poder da vida. Deus não abandonará os que amorosamente obedecem a seus mandamentos concernentes à santidade da vida. Ele recompensará a confiança deles nos meios divinos de salvação estendendo-lhes os benefícios vitalizadores do sangue do seu Filho - benefícios que os sustentarão, não por meros dias ou anos, mas para sempre. Sabem que ninguém que confia em Jeová Deus e em seu Filho já glorificado "de maneira nenhuma será desapontado" - 1 Pedro 2:6.
       Mesmo que o sangue pudesse ser administrado absolutamente sem perigo do ponto de vista médico - o que não pode ser feito - demonstraria amor ao paciente insistirem outros que o aceite num esforço de se estender sua presente vida, quando a desobediência a Deus significa o confisco da recompensa da vida sempiterna? Não! Este é um tempo em que todas as pessoas interessadas, quer médicos, amigos ou parentes, podem demonstrar seu sincero empenho pelo paciente e seu temor a Deus encorajando esse a se apegar à sua fé, não temer, mas confiar em Deus, que é Todo-poderoso.
       Os homens sem fé em Deus argúem que os princípios da retidão e as leis, não importa quão bons, podem ser postos de lado quando a vida de uma pessoa está em jogo. Até líderes religiosos se juntam em arguir que a aplicação das leis de Deus podem ser suspensas para salvar uma vida. Mas isso não é arrazoamento piedoso, como comprovado pelo caso de Eleazar, que era 'doutor da Lei'. Isso só encontra base na acusação feita por Satanás, o Diabo, quando disse a Deus: "Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida". (Jó 2:4, ARA) Satanás, estava confiante de que os homens abandonariam a Deus quando a obediência parecesse pô-los em risco pessoal. Porém, ele é mentiroso! E homens de fé em todas as épocas o tem provado. O fiel Davi não realizaria um ato que sequer sugerisse uma violação da proibição de Deus sobre o consumo de sangue. Os primitivos cristãos preferiam morrer a comprar sua liberdade mediante a negação de sua fé. E as atuais Testemunhas de Jeová, confrontadas com um debate que envolve o mais difundido uso errado de sangue na história humana, juntam-se em declarar que elas também se apegarão à sua integridade a Deus. Por sua fidelidade crêem que Deus as recompensará, até levantando-as da morte, com vida sempiterna de vigorosa saúde em seu justo novo mundo.

OBS: Para uma leitura on-line dos versículos de 2 Macabeus, citados neste texto, queira por favor acessar o linklogo abaixo:
     

Também, saiba mais sobre a legitimidade da recusa de transfusões! Queira ver o site do Professor e Mestre em Direito, Dr. Wilson Ricardo  Ligiera (autor do livro "Responsabilidade Médica Diante da Recusa de Transfusão de Sangue", entre outros), cujo link é http://www.ligiera.com.br/livros/portugues.htm        

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